quarta-feira, 21 de novembro de 2012

A GUINÉ-BISSAU É COMO O SPORTING DE PORTUGAL

Mussá Baldé - Jornalista
“…Eu sou nacionalista. Gosto da Guiné. Não tenho dois passaportes. Tenho só o passaporte da Guiné-Bissau, mas, por favor, não me venham com a tese da soberania nacional ou coisa que o valha se ao longo dos 40 anos da independência apenas tenho visto o meu país a regredir quando tem gente capaz de pôr a Guiné no quadro das Nações que almejam o progresso”.



É triste mais é a pura realidade. A cada dia que passa a Guiné-Bissau assemelha-se ao Sporting de Portugal. Quando os grandes clubes de Portugal e da Europa caminham para a  consolidação do estatuto de grandes, o Sporting teima em marcar o passo, perdendo com equipas do
campeonato inferior, fazendo ‘peixeirada’ entre os dirigentes, com um passivo astronómico e a vender ao desbarato os seus melhores elementos.


É assim a nossa Guiné-Bissau. De quando em vez ou de vez em quando há um tumulto. Há um golpe de Estado. Há tiros. Há mortes. Há quedas do Governo. Ou mesmo há tudo isso junto. Os países avançam para a era do saber, da consolidação democrática, para a era digital, para a valorização do capital humano, nós decididamente, teimamos em forrobodós que nunca mais acabam.
É a nossa sina? Será? Sem pretensões de ser um visionário ou coisa  parecida, penso que só nos resta duas alternativas para sairmos disto: Ou sentamo-nos numa grande ‘bantabá’ e sem rodeios dizermos a verdade das coisas, isto é, contar a verdade, quem matou quem, quem estive envolvido nisto e naquilo, quem pagou, quem financiou, quem instigou, quem orquestrou os 47 golpes de Estado que o país já conheceu, quem conspirou contra aquele e logo a seguir avançarmos para uma grande amnistia ou então chamamos os tubabós (os brancos) para nos virem ajudar a resolver isto como se fez nas outras paragens pois as clivagens são tantas que dificilmente teremos entendimento.
Sei que esta tese de chamar os brancos tem o seu quê de ferir o orgulho nacional de muita boa gente. Eu sou nacionalista. Gosto da Guiné. Não tenho dois passaportes. Tenho só o passaporte da Guiné-Bissau, mas, por favor, não me venham com a tese da soberania nacional ou coisa que o valha se ao longo dos 40 anos da independência apenas tenho visto o meu país a regredir quando tem gente capaz de pôr a Guiné no quadro das Nações que almejam o progresso. Este esquema foi tentado noutras paragens e resultou. Porque não na Guiné-Bissau?

Creio que é chegada a hora de deixarmos o nacionalismo bacoco de lado e
termos a consciência de que as soluções internas faliram devido às contradições e as inverdades que minam as bases da Republica! Por mim,
há muito que a Guiné-Bissau devia ser entregue, para ser administrada,
aos de fora. Haverá até uma terceira solução. Mas, as regras da democracia não permitem que se implemente este tipo de engenheira, isto é, colocar pessoas em lugares de governação por concurso público.
Temos gente capaz. Jovens sobretudo. Há muita gente com muita qualidade que está a regressar ao país. Gente formada, vinda de Portugal, do Brasil, de Marrocos, da Argélia, do Senegal, da Rússia. Acontece que não estão a ser aproveitados para promover uma verdadeira revolução no país a começar pela administração pública, porque não fazem parte ou da nomenclatura ou então do sistema mafioso que são os partidos. E há ainda os milhares de quadros guineenses que preferiram não retornar ao país depois da formação no estrangeiro. Quantos bons quadros guineenses não estarão em Portugal? Sabiam que nenhum médico guineense formado em Portugal regressou ao país? Pois bem é verdade. Todos os médicos guineenses formados em Portugal ficaram por lá ou pura e simplesmente regressaram a Portugal depois de alguns meses ou anos de penitência pelos hospitais guineenses.
Passei horas a pensar neste texto do paralelismo que existe entre o Sporting de Portugal e a Guiné-Bissau. Cheguei a conclusão de que é mais fácil fugir das derrotas e dos infortúnios do Sporting de que dos dissabores que a Guiné-Bissau causa a muitos guineenses e não só. Por exemplo, eu fui um grande fã do Sporting com cachecol, boné e tudo, mas como o clube
se afunda a cada temporada, decidi sair, romper a minha militância
clubística o que não poderei fazer com a minha nacionalidade
guineense.
Mas, por favor não me levem aos extremos!

Mussá Baldé, Jornalista



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